Integridade ministerial: o desafio da atualidade

Integridade ministerial: o desafio da atualidade
21/06/2013

Integridade ministerial: o desafio da atualidade
Pr. Claiton Ivan Pommerening[i]
 
A integridade é algo que acompanha o ministro cristão de maneira positiva e negativa, sua vida é exposta a todos e exige-se dele que a demonstre de maneira plena e isto pode se tornar um modelo de santidade a ser seguido, mas também um fardo e motivo de orgulho. É um tema presente não apenas nos meios eclesiásticos, cada vez mais é uma característica valorizada em variados grupos sociais. Entretanto, enquanto existe uma procura por integridade nestes grupos, por outro, há uma cultura midiática que tenta fazer esvaziar seu sentido com promoção de valores culturais anticristãos.
A vida humana é fragmentada economicamente, socialmente, pessoalmente, culturalmente, educacionalmente e espiritualmente, esta última dimensão é a que mais afeta as pessoas. Portanto, somos seres fragmentados, e fragmentação é o antônimo de integridade. Fragmentamo-nos (separamos, quebramos) diante das várias situações e dimensões da vida, em algumas delas por decisão própria em outras pelas circunstâncias a nós impostas.
Ao sentirmo-nos separados dos demais e de nossos próprios anseios profundos, a tendência é recorrermos a substitutos indevidos que nos fragmentam ainda mais, ou somos levados a várias formas de vícios para afastar o pânico interior.[ii] A partir deste momento se instalam patologias, pensamentos conflitantes, neuroses e doenças emocionais que podem levar o ser humano, no caso o obreiro, ao colapso. Este colapso pode se materializar como doenças físicas, cansaço, insônia, pânico, angústia, relacionamentos ilícitos, atitudes maldosas, desequilíbrio entre razão e emoção, desejos e práticas ilícitas e toda sorte de subterfúgios para amenizar a dor da fragmentação.
Este quadro pode ser agravado ainda diante das demandas religiosas e eclesiásticas a que o ministro evangélico é submetido, pois o próprio ministério pode se tornar fragmentado e doente quando não se busca a integridade da forma correta. Portanto integridade não tem apenas a ver com moralismo e ética, mas com a totalidade do ser e no caso de ministros do evangelho em enfrentarmos o desafio de não nos fragmentarmos diante de tantas demandas. Jesus mesmo disse: “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” Mc 8:36.
Deus nos chamou para a integralidade, para sermos inteiros e completos em todas as dimensões da vida, sem nunca precisar trair nossas convicções, portanto não fomos chamados para termos dimensões da vida fragmentadas, especialmente o coração e a mente. Ele nos convida para o equilíbrio e integração entre mente e corpo, entre razão e sentimentos, entre razão e intuição, entre convicções e ações, entre informação e experiência, entre instrução e criatividade, entre ciência e arte, entre trabalho e lazer e especialmente entre ministério e espiritualidade, e em estar integrado consigo mesmo, com o próximo, com Deus e com a natureza.
Quando agimos com falta de integridade somos feridos de várias maneiras e acabamos ferindo também pessoas queridas a nossa volta. Para evitar o sofrimento da dor alheia ou até mesmo para esconder a falta de integridade é preciso usar máscaras, e ao usar máscaras nos tornamos hipócritas. Por isso a melhor maneira de evitar a falta de integridade é sermos transparentes conosco mesmo, com o próximo e com Deus, mas especialmente com Deus.
A transparência para com Deus acontece quando nada do que somos, fazemos ou temos pode ficar oculto dele, quando em devoção e quebrantamento de alma conseguimos lhe contar tudo. Este é o caminho mais sensato para a santidade e pureza, pois através da confissão Ele vai nos purificando, perdoando, curando e finalmente nos tornando íntegros. Assim reconectamos nosso ser inteiro com Cristo que é o mais perfeito e completo modelo de integridade. Quanto mais integridade buscarmos, menor será a necessidade de usarmos máscaras.
Portanto, quanto mais nos preocuparmos com nossa interioridade secreta, expondo-a diante de Deus sem máscaras, integralmente, tanto mais reflexos positivos experimentaremos em nossa exterioridade, pois é o interior que fornece luz ao exterior, é a partir do interior que se reflete a beleza de Cristo (integridade) em todas as dimensões da vida. Isto é possível em relação direta com a capacidade de olhar para dentro de nós mesmos em atitude de oração e perscrutação do coração.
Assim, a maneira de atingirmos a integridade é tornarmo-nos humanos. Quanto mais humanos, com suas fraquezas, limitações, desejos e desencontros nos admitirmos diante de Deus, mais perto dele chegaremos, e somente perto dele assumimos de fato nossa integridade, passando a nos integrar ao todo daquele que rege todas as coisas no universo. Aquele que não experimenta fragmentações, quebras, desvios e fraquezas, que nunca precisa usar máscaras porque é um ser perfeito.
Jesus quando andou na terra nos ofereceu o melhor exemplo de integridade, pois assumiu a forma humana plena, “esvaziou-se a si mesmo” (Fp 1:7), e humildemente conviveu com a fraqueza humana. Quando estava cansado não sentiu vergonha de dormir na popa do barco, quando sozinho com uma mulher no poço de Jacó não ficou embaraçado em lhe demonstrar amor, sentiu fome, chorou diante da miséria humana, do sofrimento alheio e do dele mesmo, tornou-se diácono dos discípulos, na cruz admitiu estar com sede, deu o brado final “está consumado” para que hoje pudéssemos, seguindo seu exemplo, estar reconectados a integralidade de nosso ser e com Ele.
“Abençoados são vocês, que puseram em ordem seu mundo interior, com a mente e o coração no lugar certo. Assim, vocês poderão ver Deus no mundo exterior.” (Mt 5:8 AM). “Os que olham para ele estão radiantes de alegria; seus rostos jamais mostrarão decepção.” (Sl 34:5 NVI). Grifos do autor.
 

[i] Claiton Ivan Pommerening é casado com Thaís Andrea Pommerening e tem duas filhas: Letícia e Thaíne. É doutorando em Teologia pela Escola Superior de Teologia (EST), bolsista da Evangelisches Missionswerk. Possui mestrado em Teologia pela EST (2008), graduação em Teologia pela Faculdade Evangélica de Teologia - FATE (2009), graduação em Ciências Contábeis pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (1990). Membro do RELEP – Rede Latino-americana de Estudos Pentecostais e do NEPP – Núcleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo. Presidente do CEEDUC – Associação Centro Evangélico de Educação Cultura e Assistência Social em Joinville (SC); diretor da Faculdade Refidim; editor da Azusa Revista de Estudos Pentecostais (ISSN 2178-7441) e pastor auxiliar na Assembleia de Deus em Joinville (SC).

[ii] YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holística para o século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002. p.110

Comentários

Parabéns Claiton por tuas palavras, para refletirmos como alerta do Senhor e que o óleo da integridade venha nos curar.Penso que por cima daquela pintura de base antiga foi feita uma nova demão de tinta 'craquelê.' O vaso está lindo mas a sua pintura de base não aparece, a não que se quebre e que para o bem estar de todos não se encontre colado e sim reciclado. Abçs. de quem o considera um amigo.
Enviado por Anônimo (não verificado) -
at. rosane sena
Enviado por Anônimo (não verificado) -
Excelente. Atual e verdadeiro, um desafio real. A simplicidade da humanidade de Cristo é realmente um modelo. Espero que todos, e principalmente as lideranças, tenham como exemplo essa conduta íntegra do mestre. Anderson Rodrigues de Miranda
Enviado por Anônimo (não verificado) -

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